Evitar a transmissão do vírus é o ponto chave de uma pandemia. Para isso, é importante entender alguns conceitos, saber de alguns dados e buscar formas de gerenciar os riscos associados a esta situação.

 

A importância da carga viral

A carga viral é o número de partículas virais presentes em um indivíduo infectado e que são eliminadas no ambiente. Já a dose infecciosa é a quantidade de partículas virais necessárias para iniciar uma infecção. Essa dose é muito variável, podendo ir da casa das dezenas até centenas ou milhares de partículas, dependendo do vírus. 

Cientistas buscam entender o por quê da COVID-19 ser tão contagiosa, se está relacionado a uma baixa dose infecciosa ou a uma alta carga viral eliminada pelos indivíduos infectados pela doença. Conhecer a carga viral e a dose infecciosa de um vírus se faz necessário para entender a sua transmissão. Estudos mostram que, semelhante ao SARS, pacientes graves de COVID-19 apresentam uma alta carga viral. Esta carga se estende por um longo período de tempo, e pode servir para avaliar a gravidade da doença e fazer um diagnóstico antecipado (LIU et. al, 2020).

Em indivíduos infectados pela COVID-19, a carga viral costuma ser maior na fase inicial da doença. Neste período, muitas vezes a pessoa ainda não apresenta sintomas e consequentemente, não sabe que está infectada. Desta forma, permanece tendo contato normal com outras pessoas, o que acaba aumentando a disseminação do vírus. 

O ponto chave de uma pandemia é evitar que a doença continue sendo transmitida. Neste caso, as pessoas que possuem poucos sintomas porém uma alta carga viral, acabam colaborando na disseminação do vírus. Sendo assim, é necessário que os diferentes profissionais dentro da sociedade estejam preparados para gerenciar os riscos relacionados (JOYNT e WU, 2020).

A dose infecciosa do novo coronavírus ainda não é conhecida, mas acredita-se que cerca de 1.000 partículas virais são suficientes para causar a infecção. De modo geral sabe-se que os vírus respiratórios são transmitidos pela tosse e pelo espirro, porém, é menos conhecido o fato da fala também ser um potencial meio de transmissão destes vírus (STADNYTSKYI et. al, 2020).

 

Tosse, espirro e fala: A transmissão da COVID-19

Quando uma pessoa tosse, fala ou espirra, gotículas são liberadas. As gotículas são produzidas naturalmente pelos seres humanos e podem conter na sua composição agentes infecciosos, como os vírus.

Um estudo recente buscou entender o mecanismo por trás da transmissão da COVID-19 através de gotículas produzidas durante a fala. Tais gotículas possuem diferentes tamanhos, as maiores caem rapidamente no chão, porém, as menores podem permanecer no ar, se comportando como um aerossol. Um estudo publicado no The New England Journal of Medicine, mostrou que em aerossóis o vírus SARS-CoV-2 pode permanecer viável por cerca de 3 horas. Este fato torna a fala um potencial meio de transmissão de pessoa para pessoa.

O estudo mencionado utilizou laser para avaliar a quantidade de gotículas produzidas quando uma frase específica foi falada repetidas vezes dentro de uma caixa fechada. O volume da voz mostrou influenciar no número de gotículas produzidas, sendo maior com o aumento do volume da fala. Alguns estudos mostram que o tamanho das partículas produzidas durante a fala são menores que as produzidas pela tosse ou espirro. Além disso, outros estudos mostram que o número de partículas produzidas durante a fala são semelhantes ao número produzido durante a tosse (ANFINRUD et al., 2020).

Um outro estudo muito semelhante ao reportado anteriormente também avaliou, utilizando um laser, a emissão de gotículas durante a fala e a permanência destas no ar. Os resultados mostraram que em uma fala normal, as partículas podem permanecer no ar cerca de 10 minutos, sendo capazes de transmitir doenças em espaços fechados. Um outro dado é sobre a carga viral da saliva, que mostrou-se diferente em diferente pacientes. Logo, o número de partículas virais emitidas durante a fala, também variam, e podem chegar até 100.000 por minuto de fala (STADNYTSKY et al., 2020).

Dados mostram que a tosse é capaz de liberar cerca de 3.000 gotículas, enquanto um espirro, cerca de 30.000. Uma pessoa infectada é capaz de liberar 200.000.000 de partículas virais em um espirro, e estas se dispersam pelo ambiente.

Quanto a respiração, ainda não se sabe quantas partículas virais são liberadas por um portador do vírus SARS-CoV-2. No caso do vírus influenza, cerca de 33 partículas virais são liberadas por minuto, durante a respiração.

Sabendo que cerca de 44% da transmissão ocorre por pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas, chama-se atenção para a disseminação do vírus sem que a pessoa saiba que está infectada. Somado a isso, é importante lembrar da alta carga viral nos primeiros dias de infecção, aumentando ainda mais as chances de disseminação da doença.

 

Como a sua empresa pode agir diante desta situação?

É importante relacionar os dados apresentados com a transmissão ambiental da COVID-19. As superfícies são sabidamente um meio potencial de transmissão, podendo manter o vírus ativo por horas ou até dias. Logo, se pensarmos em empresas que possuem diversos colaboradores trabalhando no mesmo ambiente, deve-se atentar para os riscos associados.

Pensando que através do espirro, da tosse e da própria fala gotículas com partículas virais capazes de infectar outras pessoas são eliminadas, é necessário ter o máximo cuidado com o ambiente em que estas pessoas se encontram. A testagem ambiental periódica é uma excelente maneira de validar se os ambientes da empresa estão seguros para o trabalho. Os locais que são frequentemente tocados por diferentes colaboradores devem ser os alvos principais destas testagens. 

Além disso, pensando no grande número de pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas, chama-se atenção para a importância da testagem em massa de todos os colaboradores da empresa. Esta testagem deve ser periódica, possibilitando tomada de ações rápidas e assertivas, afastando um colaborador contaminado o quanto antes e evitando a disseminação da doença dentro da empresa.

 

Referências

ANFINRUD, P., et. al. Visualizing Speech-Generated Oral Fluid Droplets with Laser Light Scattering. The New England Journal of Medicine, p. 2061-2063, 2020.

DOREMALEN, N. et al. Aerosol and surface stability of SARS-CoV-2 as compared with SARS-CoV-1. The New England Journal of Medicine, 2020.

GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Carta à sociedade gaúcha sobre os Testes de Diagnóstico para Detectar o Coronavírus “COVID-19”. 2020. Disponível em: <https://www.inova.rs.gov.br/upload/arquivos/202003/31193933-comite-cientificotestes-312marco2020.pdf>. Acesso em: 4 de jun de 2020.

JOYNT, G. M. e WU, W. KK. Understanding COVID-19: what does viral RNA load really mean? The Lancet, v. 20, p. 635, 2020.

LIU, Y., et al. Viral dynamics in mild and severe cases of COVID-19. The Lancet, v. 20, p. 656-657, 2020.

MINISTÉRIO DA SAÚDE: UNA-SUS. A importância da carga viral e da dose infecciosa do novo coronavírus na transmissão da COVID-19, 28 de mai de 2020. Disponível em: <https://www.unasus.gov.br/especial/covid19/markdown/191>. Acesso em: 04 de jun de 2020.

SARS-CoV-2 viral load and the severity of COVID-19. CEBM, 26 de mar de 2020. Disponível em: <https://www.cebm.net/covid-19/sars-cov-2-viral-load-and-the-severity-of-covid-19/>. Acesso em: 04 de mai de 2020.    

STADNYTSKY, V. The airborne lifetime of small speech droplets and their potential importance in SARS-CoV-2 transmission. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 117, n. 22, p. 11875-11877, 2020.

The Risks – Know Them – Avoid Them. Erin Bromage, 20 de mai de 2020. Disponível em: <https://www.erinbromage.com/post/the-risks-know-them-avoid-them>. Acesso em: 04 de jun de 2020.