Fraude alimentar é mais comum do que imaginamos. Fraudadores estão falsificando produtos de origem vegetal (azeite, chá, café, pimenta), leite e derivados, pescados e muito mais. 

 

Sabe aquele leite mais líquido do que o normal? Ele pode conter água em sua composição para aumentar o volume e ser vendido como conteúdo 100% leite. Isso é considerado uma fraude alimentar.

 

Em um artigo anterior demonstramos a diferença entre Food Fraud, Food Quality, Food Safety e Food Defense

 

Food fraud incluem adulterações por motivos econômicos a partir da substituição ou adição fraudulenta e intencional (sabotagem ou terrorismo) de substâncias ao produto. No artigo de hoje vamos conferir 7 alimentos que podem ser fraudados e você talvez não saiba.

 

Leite

O leite é um dos principais alimentos fraudados no Brasil. Em artigo recentemente publicado no Milk Point, os autores relataram que as principais fraudes em leite estão relacionadas a:

 

↠Adição de água;

 

↠Adição de conservantes como o citrato de sódio, usado para estabilizar o produto, interferindo no teor de cálcio solúvel do leite. Além de formol, que é usado para aumentar a vida útil do leite, mas é altamente tóxico.

 

↠Adição de neutralizantes, como a soda cáustica, utilizada para neutralizar a acidez do leite. Além de mascarar a contagem de  bactérias provenientes da falta de Boas Práticas de Fabricação.

 

↠Adição de soro de leite para aumentar o volume final. É importante ressaltar que, quando usado intencionalmente e devidamente declarado no rótulo, a adição de soro do leite não é considerada fraude. 

 

Azeite

Recentemente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) executou uma ação, que identificou a venda irregular de óleo composto como sendo azeite de oliva.

 

A comercialização de óleo composto é permitida, uma vez que este é constituído da mistura de óleo de soja com outros óleos vegetais. No entanto, esta informação deve estar claramente informada no rótulo, para que o consumidor não seja induzido a comprar “gato por lebre” na hora da compra. 

 

Além da denominação de venda, outra fraude comum em azeite é o uso de azeites de oliva virgem vendidos como extravirgem, ou então utilizados para diluí-los e aumentar o volume do produto. 

 

Mel

 

A fraude em mel pode ser provocada de forma direta, pela adição de açúcar, glicose ou amido, como forma de fazer render o mel. Indireta, que envolve a alimentação das abelhas, de forma que elas produzam mais mel. E ainda misturada, quando mel de diferentes composições são misturados e vendidos como um produto de maior valor. 

 

As alterações no mel vão além dos danos financeiros, pode resultar em riscos à saúde do consumidor. Quando o mel é envasado em conservas caseiras, que não possuem um tratamento térmico adequado, pode ocorrer a germinação dos esporos de Clostridium botulinum (CERESER et al., 2008).

 

Café

Não é muito comum percebermos as fraudes do café, uma vez que ela normalmente ocorre devido a presença de impurezas. O café considerado puro pode conter até 1% de impurezas, principalmente a casca do próprio café.  

 

Mas, outras substâncias podem ser utilizadas para fraudar o café moído, como o Tricale. Este cereal é resultado da hibridação do trigo e do centeio, pode ser adicionado ao café moído para aumentar o volume. Alguns fraudadores indicam que este cereal não é identificado em análises de qualidade, o que não é verdade. Análises cromatográficas e de sequenciamento de DNA podem detectar as espécies de vegetais no produto final, inclusive o tricale. 

 

Chá

A fraude em chás normalmente ocorre pela mistura de outras partes da planta, que não são declaradas no rótulo. Mas também pode se dar pela comercialização de mistura de ervas, troca de embalagem, adição de aditivos e serragem tingida. 

 

Assim como nos chás, a fraude de especiarias ocorre pela substituição das mesmas por farinhas com corantes e aromas. No caso da pimenta preta, por exemplo, quando vendida em grãos, pode ser misturada com sementes de mamão, devido a similaridade dos grãos. 

 

Pescados

Em pescados embalados e processados, a fraude mais comum é o uso de espécies de menor valor na composição. Ou mesmo o uso de uma espécie diferente daquela que é indicada no rótulo. 

Além disso, são comumente observadas irregularidades na comercialização e venda ilegal de peixes. Isso ocorre bastante em temporada específica para pesca de um determinado peixe,  como o bacalhau, por exemplo, bastante consumido no final do ano. 

 

Carnes

Assim como o leite, a carne é um dos produtos mais fraudados em território brasileiro. Os principais relatos de fraude desses alimentos estão relacionados à comercialização de peças de carne de menor valor comercial. Além também da mistura de carne de espécies diferentes, como carne de gado e cavalo, caso que deixou europeus indignados em 2013, lembram?  

 

Até aqui abordamos 7 alimentos que podem ser fraudados e você provavelmente não desconfiava. Mas, quero deixar um bônus, os produtos orgânicos

 

Quando apresentam pesticidas em níveis elevados, os produtos orgânicos já são considerados fraudados. Por isso, a produção e comercialização desses produtos é bastante fiscalizada e monitorada por vários programas dos órgãos fiscalizadores.

 

O MAPA, por exemplo, lançou este ano programas para controle das cadeias produtivas dos produtos de origem vegetal:

  • Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal;
  • Programa Nacional de Qualidade de Produtos de Origem Vegetal;
  • Programa Nacional de Monitoramento, Rastreabilidade e Certificação
  • Programa de Prevenção e Combate à Fraude e Clandestinidade

 

Esses programas integram não só os alimentos orgânicos, mas também especiarias, azeite, café, que abordamos anteriormente, além de trigo, soja, milho e produtos processados à base de vegetais. 

 

Resumindo, o que é considerado fraude nos alimentos?

↠Adulteração: adição de um material não declarado em um alimento ou matéria-prima para ganho econômico.

↠Atestado de saúde impróprio, fraudulento

↠Documento de importação fraudado ou em falta

↠Data de vencimento prolongada

↠Rotulagem incorreta, com informações importantes faltando, por exemplo, alegações para alérgenos.

↠Importação ilegal, a exemplo, bebidas alcoólicas importadas, que são comercializadas sem a declaração fiscal de importação

↠Substituição de ingredientes

↠Aprimoramento artificial, a exemplo, uso de corantes artificiais para conferir cor a produtos frescos, como carne, frutas e legumes.

↠Diluição, como a adição de água no leite para aumentar o volume

↠Marca errada, ou seja, o produto é comercializado como sendo da marca X, mas na verdade é da marca Y, que muitas vezes é de menor qualidade

 

Marvin & Colaboradores (2022) utilizaram um software para tabular e computar os principais casos de Food Fraud ocorridos em 164 países entre 2015-2020. Os alimentos que tiveram maior percentual de fraudes relatadas foram:

 

Carne e produtos cárneos (27,7%)

Leite e derivados (10,5%)

Cereais e produtos de panificação (8,3%)

Peixes e derivados (7,7%)

As principais fraudes detectadas foram em relação a data de validade, adulteração e rotulagem de país de origem incorreta.  

 

Fraude alimentar: como combater?

Food Defense: Inclui atividades associadas à proteção dos alimentos e bebidas contra todas as formas de ataques maliciosos ou intencionais, incluindo ataques ideológicos que levam a contaminação (Moerman, 2018).

 

Para você que é produtor, fique atento a qualidade da sua matéria-prima. o ideal é realizar análises periódicas para garantir a qualidade do produto final. E para todos nós, consumidores, devemos ficar atentos aos produtos que estamos consumindo. Alguns são mais fáceis de verificar a fraude, mas ter confiança na marca que está consumindo e ficar de olho na lista de produtos fraudados que é divulgada pelo MAPA, são algumas dicas.  

 

Referências

CERESER, N. D. et al. Botulismo de origem alimentar. Ciência Rural, Santa Maria, v. 38, n. 1, p. 280-287, 2008.

Marvin, H.J.P.; Hoenderdaal, W.; Gavai, A.K.; Mu, W.; Bulk, L. M.; Liu, N.; Frasso, G.; Ozen, N.; Elliott, C.; Manning, L.;  Bouzembrak, Y.; Global media as an early warning tool for food fraud; an assessment of MedISys-FF. Food Control 137 (2022). https://doi.org/10.1016/j.foodcont.2022.108961