Diversos pesquisadores buscam entender como a COVID-19 se comporta nos indivíduos assintomáticos. Um estudo recente trouxe dados sobre a resposta imune destes indivíduos contaminados pelo vírus SARS-CoV-2 e que nunca desenvolvem sintomas.

 

O derramamento viral dos assintomáticos

Em um recente estudo publicado na revista Nature Medicine, foram avaliados 37 indivíduos assintomáticos infectados pelo vírus SARS-CoV-2, no distrito de Wanzhou, na China. Todas as pessoas analisadas tiveram o diagnóstico feito por RT-PCR e não apresentaram sintomas clínicos durante a hospitalização e nos 14 dias antecedentes.

Um dos resultados encontrados foi em relação ao tempo de derramamento viral. Este termo está associado ao intervalo de resultados positivos de swabs nasofaríngeos, ou seja, o período entre o primeiro e o último resultado positivo da análise de RT-PCR. Nos indivíduos que não apresentam sintomas este derramamento viral foi mais prolongado quando em comparação com os sintomáticos. Nos assintomáticos o derramamento viral durou cerca de 19 dias, enquanto nos sintomáticos, cerca de 14 dias. É importante ressaltar que o derramamento viral não está diretamente ligado a infecciosidade viral.

 

A resposta imune dos assintomáticos

O estudo também avaliou os níveis dos anticorpos IgG e IgM nos indivíduos testados (sintomáticos e assintomáticos). Os anticorpos são proteínas (imunoglobulinas) que são produzidas pelo organismo em resposta a uma infecção. O IgM (imunoglobulina M) positivo indica um contato recente com o vírus, pois estes são os primeiros anticorpos a aparecer. Eles estão presentes na fase ativa da doença e um resultado positivo indica que o microrganismo, neste caso o vírus SARS-CoV-2, ainda pode estar presente no indivíduo no momento do teste. Já um resultado IgG (imunoglobulina G) positivo indica que o indivíduo está na fase convalescente da doença ou que teve contato com o vírus em algum momento da vida.

No estudo citado, os pacientes assintomáticos apresentaram uma resposta menor de anticorpos IgG e IgM quando comparado aos pacientes sintomáticos. Para o anticorpo IgG, 81,1% dos assintomáticos apresentaram resultado positivo, enquanto dos sintomáticos 83.8% apresentaram resultado positivo. Já em relação ao IgM, 62,2% dos assintomáticos apresentaram resultado positivo, enquanto os sintomáticos, 78,4%. 

O estudo também avaliou o nível de anticorpos neutralizantes nos indivíduos analisados, tanto assintomáticos quanto sintomáticos, nas 8 semanas após a saída destes pacientes do hospital (fase convalescente inicial). Os anticorpos neutralizantes são glicoproteínas responsáveis pelo clareamento viral, sendo sua produção iniciada pela resposta imune do organismo hospedeiro. Nos portadores assintomáticos foi observada uma redução de 81,1%, enquanto nos sintomáticos, de 62,2%.

Um outro dado analisado no estudo em questão foi os níveis de citocinas em indivíduos sintomáticos e assintomáticos. As citocinas também estão relacionadas ao sistema imune e foram utilizadas no estudo para uma melhor elucidação sobre a resposta imune dos indivíduos infectados pelo vírus SARS-CoV-2. Os resultados mostraram que os níveis de 18 citocinas pró e anti-inflamatórias foram menores dos indivíduos assintomáticos em comparação com os sintomáticos. Todos os dados apresentados sugerem uma resposta imune mais fraca dos indivíduos assintomáticos quando comparado com os sintomáticos.

 

O risco envolvido no “passaporte de imunidade”

Além disso, outro ponto do artigo é relacionado aos níveis de anticorpos detectados na fase convalescente inicial. Os resultados mostraram que os níveis de IgG reduziram 93,3% nos assintomáticos e 96,8% dos sintomáticos neste período.

Estes dados levaram os pesquisadores a questionarem os riscos envolvidos no “passaporte de imunidade”, que seria a liberação da quarentena para as pessoas que já tiveram a COVID-19. E com isso, reforçam a importância de manter o distanciamento social, higiene, isolamento dos grupos de riscos e o uso generalizado de testes.

Vale ressaltar que para os indivíduos assintomáticos, o teste mais indicado é o RT-PCR. Este teste detecta diretamente o material genético do vírus, e pode ser utilizado no diagnóstico da COVID-19. Os testes rápidos fornecem uma resposta tardia, uma vez que detectam os anticorpos produzidos pelo organismo em resposta ao vírus. Além disso, levando em consideração os dados apresentados pelo estudo publicado, os indivíduos assintomáticos mostraram uma resposta imune mais fraca, o que possivelmente poderia interferir no resultado dos testes rápidos.

 

 

Referências:

Anticorpos de pacientes assintomáticos da Covid-19 diminuem rapidamente em até três meses, diz pesquisa. O Globo, 22 de jun de 2020. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/anticorpos-de-pacientes-assintomaticos-da-covid-19-diminuem-rapidamente-em-ate-tres-meses-diz-pesquisa-24492105>. Acesso em: 25 de jun. de 2020.

Covid-19: produção de anticorpos neutralizantes e sua aplicabilidade clínica. Portal Pebmed, 24 de jun de 2020. Disponível em: <https://pebmed.com.br/covid-19-producao-de-anticorpos-neutralizantes-e-sua-aplicabilidade-clinica/>. Acesso em: 25 de jun de 2020.

Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). O que é IgM e IgG?. 2020. Disponível em: <https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1739-o-que-e-igg-e-igm>. Acesso em: 25 de jun de 2020.

LONG, Q. et al. Clinical and immunological assessment of asymptomatic SARS-CoV-2 infections. Nature, 2020.