Você sabe o tamanho dos custos gerados pelas IRAS (infecções relacionadas à assistência à saúde)?

Os óbitos causados pelas IRAS (infecções relacionadas a assistência à saúde), sem dúvida, são o principal problema causados pelas IRAS. Entretanto, existem outros impactos negativos que são pouco, ou quase nada, discutidos.  Nesse texto abordarei os custos associados às IRAS.

O que são IRAS?

Infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), também chamadas de Infecções nosocomiais ou Infecções hospitalares, são definidas como infecções adquiridas por pacientes durante o tratamento em instituições de saúde, tendo sua origem a partir do momento da internação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estas infecções estão entre as maiores causas de morte e aumento de morbilidade entre os pacientes hospitalizados, levando a prejuízos sociais, econômicos e problemas de estruturação nas instituições de saúde.

Quais são esses custos e quais as consequências?

Os custos gerados pelas IRAS podem ser divididos em custos diretos, custos indiretos e custos intangíveis. Estes custos tem um impacto amplo dentro da cadeia de saúde, entre os agentes sujeitos aos prejuízos associados as IRAS estão os pacientes, os familiares, os profissionais de saúde, as empresas, os hospitais e os planos de saúde, sendo que os danos podem ser financeiros e/ou mesmo psicológicos.

  1. i)  Custo Direto

  • Aumento do tempo de internação;
  • Aumento na demora para atendimento de outros pacientes
  • Bloqueio de leitos;
  • Gastos adicionais com antibióticos;
  • Gasto com antibióticos mais potentes e mais caros;
  • Consultas;
  • Uso de Equipamentos/tecnologias;
  • Equipe (médicos, técnicos em enfermagem e técnicos administrativos)
  • Custo com desinfecção/descontaminação;
  • Gasto com testes laboratoriais, culturas, radiografias e antibiogramas;
  • Custo de oportunidade de atender novos pacientes;
  • Processos Judiciais e indenizações financeiras;
  1. ii) Custo Indireto

  • Diminuição da produtividade no trabalho em decorrência de sequelas;
  • Descontinuidade no trabalho relacionadas a morte de paciente por IRAS;
  • Perda de salários;
  • Perda de renda por membros da família;
  • Aumento da Morbidade;
  • Mortalidade;
  • Perda de tempo de lazer;
  • Tempo gasto por família e amigos para visitas hospitalares, custos de viagem e atendimento domiciliar;

iii) Custo intangível

  • Alterações emocionais;
  • Problemas Psicológicas;
  • Dor;
  • Sofrimento;
  • Isolamento;
  • Imagem negativa para o hospital.

Qual o tamanho do impacto na saúde?

Nos Estados Unidos, por exemplo, os gastos associados às infecções hospitalares estão contabilizados em aproximadamente US$ 33 bilhões anuais, (National Action Plan to Prevent Health Care-Associated Infections: Road Map to Elimination, April 2013, USA). Relatórios recentes sugerem que na Europa ocorre anualmente cerca de 5 milhões de casos de IRAS, implicando em um impacto econômico na ordem de  € 13  a € 24  bilhões de Euros.

Quais os custos para os hospitais?

Pode-se caracterizar três grandes impactos causados pelas IRAS em hospitais: i) Custo de publicidade gerado pelo óbito de pacientes, implicando em custos sociais e impactos negativos na imagem dos hospitais; ii) Custo econômico e financeiro, principalmente para hospitais públicos e filantrópicos que atendem pelo SUS, gerado pelo prolongamento no tratamento de pacientes com infecções hospitalares com gastos adicionais em antibióticos, equipamentos e equipe médica; iii) Custo de oportunidade para os hospitais privados (ou filantrópicos com atendimento privado) gerados pela diminuição na rotatividade de pacientes, os quais apresentam maior rentabilidade nos primeiros dias de tratamento, a qual começa a reduzir à medida que os dias de internação aumentam, como exemplificado no gráfico abaixo.

Evidências dos custos financeiros?

Segundo projeções realizadas pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) em 2005, a partir de dados levantados em hospitais dos EUA, revelaram que as infecções relacionadas a MRAS (Staphylococcus aureus resistente à meticilina) elevam o tempo médio de permanência no hospital de um paciente para 10 dias, contra a média de 4,6 dias para as demais internações. O custo médio de internação por infecção por MRSA é de US$ 14.000 contra os US$ 7.600 para todas as outras internações.

Já em outra pesquisa realizada com 4.000 pacientes na Inglaterra publicada na HealthCare Infection Society, mostrou que em média os pacientes que contraem infecções nosocomiais ficam internados 14 dias extras.  Desse modo, na medida em que o paciente prolonga sua estadia no hospital, o gasto em diárias, equipamentos e equipe pode chegar a um valor inestimável.

Em Portugal, uma pesquisa (2007) realizada para avaliar os custos das infecções hospitalares de pacientes internados no centro hospitalar Cova da Beira identificou que um paciente com infecção hospitalar tem um tempo médio de internação 2,4 vezes superior ao enfermo sem infecção. O estudo comparou os custos dos recursos utilizados para tratar 77 pacientes com infecção hospitalar, com os custos de pacientes sem infecção hospitalar. Os resultados apresentados mostraram que i) os doentes com infecção tiveram um gasto com antibióticos 2,5 superiores ao custo de pacientes sem infecção; ii) a média total de custos da internação de pacientes com infecção hospitalar é 2 vezes superior comparado aos pacientes sem infecção, iii) O gasto com cultura microbiológica é 9 vezes maior em um paciente com infecção hospitalar.

E no Brasil?

Infelizmente, no Brasil não possuímos dados oficiais mais amplos sobre esse tema como nos EUA. Mesmo assim, algumas pesquisas são realizadas e nos dão a dimensão do problema:

  • Uma pesquisa realizada em 2012 no Hospital Santa Casa de Minas Gerais identificou que o gasto diário de pacientes com infecção hospitalar chega a R$ 1.502,18, um gasto adicional de R$ 1.065,05 comparado ao custo de pacientes sem infecção hospitalar.

 

  • Uma dissertação (2011) realizada em um hospital privado de grande porte de Belo Horizonte, identificou que o custo com antimicrobianos de um paciente com Klebsiella pneumoniae sensível teria um valor total de R$ 937,80, enquanto o tratamento de um paciente com Klebsiella pneumoniae multirresistente teria um custo de R$ 4.503,20, gastos apenas com antimicrobianos.

 

  • Uma pesquisa realizada pela Fiocruz (2007) com 1.031 pacientes em três hospitais-escola do Rio de Janeiro com pacientes que contraíram infecções hospitalares, mostrou que o tempo de internação aumentou em 226 dias, elevando os custos para o sistema de saúde.

Tempo de internação e custos – paciente com IRAS x paciente sem IRAS

Conclusão

Como é perceptível nos dados acima, os impactos causados pelas IRAS são graves e vão muito além de taxas e indicadores.

Nos EUA para evitar esses impactos financeiros na cadeia de saúde algumas medidas drásticas vêm sendo tomadas. Um exemplo é em relação aos custos com tratamento e internação de pacientes que contraem uma infecção no próprio hospital cuja responsabilidade passou a ser do próprio hospital e não mais do plano de saúde, governo ou paciente. A lógica, nesse caso, é obrigar que os hospitais invistam cada vez mais em qualidade, tecnologia e inovação para aumentar a segurança do paciente e reduzir eventos dessa natureza.

E no Brasil? Temos taxas de IRAS bastante controladas, ainda assim existe espaço para melhorar. Um ponto bastante relevante que precisamos melhorar é ter dados e informações mais amplas sobre os custos associados às IRAS.

Além disso, alguns hospitais vêm adotando novas tecnologias para controle de IRAS, como o sequenciamento de DNA em larga escala que permite identificar áreas de riscos, rastrear surtos e otimizar processos.

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 Referências

DE PAULA, A, O. Custos com Antimicrobianos no Tratamento de Pacientes com Infecção da Corrente Sanguínea em uma Unidade de Terapia Intensiva. Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Enfermagem. Dissertação, Belo Horizonte, 2011.

FARBMAN, L;  AVNI, T; RUBINOVITCH; LEIBOVICI, L; and PAUL, M. Cost-Benefit of Infection Control Interventions Targeting Methicillin-Resistant Staphylococcus Aureus in Hospitals: Sistematic Review. Clinical Microbiology and Infection, European Society of Clinical Microbiology and Infection, May, 2013.

FRASER, V, J. Starting to Lerarn About the Costs of Nosocomial Infections in the Millennium: Where Do We Go From Here?. Infect Control 23(4): 174-176,2002.

FHB. Federação Brasileira de Hospitais. Indicadores de saúde. http://fbh.com.br/category/institucional/publicacoes/indicadores-de-saude/

JÚNIOR, W, V, M. Avaliação da ocorrência de eventos adversos em hospital no Brasil. Ministério da Saúde, Fiocruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Tese de Doutorado, Rio de Janeiro, 2007.

MARTINS, M, I, T, M; FRANCO, M, J, B; DUARTE, J, C. Um Estudo de Caso Sobre os Custos das Infecções no Centro Hospitalar Cova da Beira. Revista Referência, IIº Série – nº 4 – Jun. 2007.

MINISTÉRIO DA SAÚDE – SIPNASS. Programa Nacional de Avaliação de Saúde (PNAS). Brasília, Abril, 2007.

NAGINO, G, O. DE OLIVEIRA, C, D. CORREIA, P, C. MACHADO, N, M. DIAS, A, T, B. Impacto Financeiro das Infecções Nosocomiais em Unidades de Terapia Intensiva em Hospital Filantrópico de Minas Gerais.  Rev. Bra. Ter. Intensiva, 2012; 24(4): 357-361.

OMS. Organização Mundial da Saúde: Dados e Estatísticas. http://www.who.int/research/es/

PORTUGAL. Programa Nacional de Prevenção e Controle da Infecção Associada aos Cuidados de Saúde. Ministério da Saúde, 2007, Lisboa.

SCOTT, R, D. The Direct Medical Costs Of Healthcare-Associated Infections in U.S Hospitals and the Benefits of Prevention, March, 2009

USA. National Action Plan to Prevent Health Care-Associated Infections: Road Map to Elimination. Departament de Health & Human Services,  April 2013.

 

Luiz Fernando Oliveira É economista, diretor de negócios e um dos fundadores da Neoprospecta.