O monitoramento ambiental é uma importante ferramenta para avaliação das medidas de qualidade na indústria, sendo decisivo para aprovação ou reprovação dos lotes e para a segurança dos produtos farmacêuticos.

 

Além do controle de qualidade microbiológico de produtos farmacêuticos outro ponto fundamental na rotina farmacêutica é o monitoramento ambiental microbiológico.

Adicionalmente a análise microbiológica de matérias-primas, produtos a granel e do produto acabado, é necessário também o monitoramento ambiental das áreas de produção (incluindo a limpeza dos equipamentos, a água utilizada no processo, a qualidade do ar e os solventes residuais gerados) e das embalagens, visto que esses fatores impactam a qualidade do produto final1.

 

A importância do monitoramento ambiental

O monitoramento ambiental faz parte do controle de qualidade microbiológico de uma indústria farmacêutica, e compreende um conjunto de medidas que garantem que a qualidade microbiana do local de produção esteja dentro dos padrões exigidos pela legislação2,3.

Segundo as Boas Práticas de Fabricação (definidas na RDC Nº 17, de 16 de abril de 2010), o monitoramento ambiental pode ser realizado a cada turno, diariamente, semanalmente ou mensalmente, dependendo do local em questão4,5. Os dados desse monitoramento fornecem o perfil microbiano das áreas limpas, definindo os limites de alerta, identificando as tendências de contaminação e determinando as ações necessárias para resolução do problema6,7.

As Boas Práticas de Fabricação também definem os quatro graus de classificação das áreas limpas (áreas com controle ambiental definido em termos de contaminação) em4,7:

Grau A: locais de operações de alto risco, como por exemplo as áreas determinadas para o envase de medicamentos injetáveis;

Grau B: locais que circundam as áreas Grau A;

Grau C e D: locais onde ocorrem etapas de produção consideradas menos críticas.

 

Fatores avaliados no monitoramento ambiental

Equipamentos: Todos os equipamentos utilizados no processo produtivo podem contaminar indiretamente o produto farmacêutico, e por isso devem ser sanitizados, desinfectados ou esterilizados antes e após do uso8.

Qualidade do ar: A qualidade do ar é um ponto decisivo para determinar a qualidade do ambiente. Esse monitoramento pode ser realizado por amostragem passiva (realizado com placas com meio de cultura expostas ao ar) ou ativa (realizado por meio da passagem de um determinado volume de ar por placas com meio de cultura)2. Dentre os pontos avaliados estão os limites de partículas não-viáveis e viáveis do local, a análise da integridade do filtro de ar de alta eficiência de partículas (filtro HEPA) e dos fluxos de ar ambiente6.

Qualidade da Água: A água, além de ser a matéria-prima mais utilizada na indústria farmacêutica, também é necessária para limpezas, lavagens, entre outros usos durante o processo produtivo, e por isso é uma importante fonte de contaminação. As análises de qualidade da água podem variar de acordo com os diferentes graus utilizados (potável, purificada, ultrapurificada, água para injetáveis, entre outras). Dentre as análises mais utilizadas estão o método de filtração por membrana, o teste de endotoxina bacteriana (pirogênico) e o método turbidimétrico (medição da turbidez da amostra)2,5.

Qualidade da superfície: A avaliação de pisos, paredes e superfícies de equipamentos, principalmente os que estão próximos aos locais de exposição do produto, deve ser realizado por meio de placas Rodac (Replicated Organism Detection and Counting) ou de coletas feitas com swabs posteriormente cultivadas em meios específicos2. As farmacopeias atuais orientam o conhecimento da microbiota local para a escolha adequada dos materiais de limpeza e sanitizantes9.

Embalagens: As embalagens também podem ser uma fonte primária de contaminação. Para produtos estéreis, os frascos devem ser esterilizados antes do envase do produto, e para produtos não estéreis é preciso evitar a contaminação acidental durante a estocagem ou transporte8.

Recursos humanos: O monitoramento ambiental também inclui os funcionários que participam do processo produtivo. A boa higiene pessoal e a atenção aos procedimentos de biossegurança são fundamentais para evitar a disseminação de microrganismos pelo ambiente2.

 

Métodos utilizados no monitoramento ambiental

Todos os métodos utilizados devem seguir as especificações e critérios das Farmacopeias. Esses métodos permitem detectar, quantificar e identificar os microrganismos, o que é fundamental para que a indústria farmacêutica atue corrigindo possíveis contaminações1,7.

Atualmente, as técnicas moleculares como a PCR em tempo real são usadas na identificação e quantificação de microrganismos, uma vez que possibilitam a amplificação de fragmentos específicos do DNA1. Essa identificação molecular baseia-se principalmente na análise das regiões gênicas 16S rRNA (gene altamente conservado entre as espécies), facilitando a detecção de bactérias, principalmente10.

Na Neoprospecta possuímos uma solução chamada Diagnóstico Microbiológico Digital (DMD), com ela conseguimos identificar, em uma análise, o conjunto de microrganismos presentes no meio. É possível analisar a microbiota de alimentos, água, superfícies, entre outras amostras.

Esta solução é largamente utilizada pelas Indústrias de Alimentos na garantia da segurança e qualidade do processo produtivo e consequentemente, do produto final.

Entre em contato conosco que te ajudamos nisso!

 

Referências:

1- Ferreira, JA. Detecção e identificação rápidas dos principais contaminantes microbiológicos em fármacos por espetroscopia de infravermelho. Universidade de Lisboa, 2017. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/handle/10451/28840?locale=pt_PT

2- Selim,NA., Saeed AM., Ibrahim MK. Monitoring and controlling bacteria in pharmaceutical industries water system. Journal of Applied Microbiology, 2020. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32357285/

3- Gordon,O., Berchtold,M., Staerk,A., et al. Comparison of Different Incubation Conditions for Microbiological Environmental Monitoring. PDA J Pharm Sci and Tech, 68 394-406, 2014. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25336415/

4- Ministério da Saúde – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC Nº 17, de 16 de abril de 2010. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2010/res0017_16_04_2010.html

5- Souza, JC. Controle de qualidade microbiológico de medicamentos estéreis. Instituto de Tecnologia em Fármacos- Farmanguinhos – FIOCRUZ, 2019. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/37092/2/JaquelineCarvalhoDeSouza_TCC_TIF_2019.pdf

6- Organização Pan-Americana de Saúde. Boas práticas da OMS para laboratórios de microbiologia farmacêutica. Organização Mundial da Saúde, 2013. Disponível em: https://www.paho.org/hq/dmdocuments/2013/Red-PARF-No11-Port.pdf

7- Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Guia de Qualidade para Sistemas de Tratamento de Ar e Monitoramento Ambiental na Indústria Farmacêutica, 2013. Disponível em: https://conforlab.com.br/legislacao/qualidade_do_ar_final.pdf

8- Universidade de São Paulo, USP. Disciplina – Controle de Qualidade de Medicamentos, Correlatos e Cosméticos, 2016. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5047471/mod_resource/content/1/Controle%20de%20Qualidade%20de%20Formas%20Farmac%C3%AAuticas%20N%C3%A3o-Est%C3%A9reis.pdf

9- CMS Científica. Sanitização em salas limpas e os desafios da Indústria Farmacêutica. CMS Científica do Brasil, 2018. Disponível em: https://cmscientifica.com.br/sanitizacao-em-salas-limpas-e-os-desafios-da-industria-farmaceutica/

10- Xavier, MP., Nogueira, HS., Xavier, MAS., et al. Monitoramento microbiológico de áreas grau A e grau B de uma produção asséptica. Revista Unimontes Científica, v. 19, n.2, 2017. Disponível em: http://www.ruc.unimontes.br/index.php/unicientifica/article/view/578

 

AUTORA

Bruna Pereira Lopes

Biotecnologista, Doutora em Ciências e Pós- doutorado em Fisiopatologia Clínica e Experimental. Pesquisadora e docente nas áreas de fisiologia, biologia molecular e metabolismo. Experiência em produção e revisão de conteúdo e divulgação científica.