As Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) são responsáveis pela morte de inúmeras pessoas ao redor do mundo anualmente. Desta forma, elas têm sido consideradas um importante problema econômico e de saúde pública, em alguns países nas últimas duas décadas. 

 

O novo Coronavírus (SARS-CoV-2), responsável pela COVID-19, se espalhou rapidamente pelo mundo. Por este motivo, diversos questionamentos sobre esta doença estão surgindo, entre eles a dúvida “Afinal, a COVID-19 pode ser considerada uma DTA?”.

 

O QUE É UMA DTA?

As Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) são aquelas doenças causadas pelo consumo de alimentos e/ou água contaminados. Para ser considerado um surto de DTA, duas ou mais pessoas precisam apresentar os mesmos sintomas após ingerirem água e/ou alimentos da mesma origem.

As DTAs podem ter diferentes causadores, sendo eles: bactérias, fungos, vírus, parasitas, toxinas, entre outros. Elas são consideradas um preocupante problema de saúde pública global.

No Brasil, a maior parte dos surtos de DTA são causados por bactérias, sendo as principais: Escherichia coli, Salmonella spp e Staphylococcus aureus. Alguns vírus também são responsáveis por surtos de DTA, entre eles rotavírus e norovírus. Na imagem abaixo pode-se observar os 10 principais agentes etiológicos responsáveis por surtos de DTA no Brasil, entre os anos de 2009 e 2018.

Fonte: Ministério da Saúde (2019)

 

Os sintomas causados por uma DTA estão relacionados com o agente etiológico envolvido. Desta forma, eles podem variar de leves desconfortos intestinais até sintomas mais graves, podendo até ser uma contaminação fatal.

Alguns fatores estão relacionados com o surgimento de uma DTA, sendo alguns deles: 

  • Práticas inadequadas de higiene pessoal
  • Consumo de alimentos contaminados
  • Condições impróprias de saneamento e qualidade
  • Práticas inadequadas de manipulação
  • Limpeza e desinfecção dos equipamentos realizadas de forma inadequada
  • Aditivos intencionais ou acidentais, entre outros.

Sabendo que as DTAs podem ser causadas por vírus, embora seja menos comum, o surgimento do novo coronavírus gerou uma dúvida em relação a possibilidade deste vírus ser transmitido através dos alimentos.

 

A COVID-19 PODE SER CONSIDERADA UMA DTA?

A chegada da COVID-19 trouxe diversos desafios e para tentar um controle da doença, apenas serviços essenciais foram mantidos. Para garantir o abastecimento da população, toda cadeia de alimentos, desde a produção até o fornecimento, foi mantida como serviço essencial.

Com isso, os cuidados redobraram, para garantir tanto a segurança dos colaboradores, como o abastecimento da população e a total segurança dos alimentos fornecidos.

As buscas por informações a respeito das formas de transmissão do vírus cresceram e dúvidas surgiram se os alimentos seriam ou não fontes de contaminação. Diversas autoridades nacionais e internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e U.S. Food and Drug Administration (FDA), relatam não haver evidências de que o novo coronavírus pode ser transmitido por alimentos.

Vírus gastrointestinais transmitidos por alimentos, como é o caso do norovírus, podem infectar humanos através de alimentos contaminados. Porém, o vírus SARS-CoV-2, responsável pela COVID-19, é um vírus que causa doenças respiratórias.

O comportamento do novo coronavírus tem se mostrado semelhante aos demais vírus da mesma família. Dessa forma, para se multiplicar ele necessita de um hospedeiro, seja animal ou humano. Outra característica desta família de vírus é a sensibilidade a temperaturas que normalmente são utilizadas no preparo dos alimentos (cerca de 70°C).

Estudos têm mostrado a capacidade do vírus se manter ativo em diferentes superfícies, sendo influenciado pela temperatura e umidade do local. Porém, também se sabe da capacidade de eliminar o vírus através de procedimentos de limpeza e sanitização realizados corretamente. Sendo assim, deve-se aumentar os cuidados com a manipulação e higiene, tanto dos alimentos quanto dos locais utilizados para seu preparo.

 

CUIDADOS COM AS BPFs COMO FORMA DE EVITAR A CONTAMINAÇÃO PELA COVID-19

Embora não existam evidências de que o vírus responsável pela COVID-19 possa ser transmitido por alimentos, é necessário o máximo cuidado com as Boas Práticas de Fabricação (BPFs), para garantir um alimento seguro à população.

Alguns cuidados importantes que podemos citar, são:

Saúde dos colaboradores

É importante tomar medidas que garantam a identificação imediata de casos suspeitos da COVID-19 e posterior afastamento do colaborador, evitando a contaminação dos demais.

Sendo assim, algumas medidas são importantes, como: avaliação do estado de saúde dos funcionários, maior espaçamento físico entre os colaboradores e divisão de turnos de trabalho. 

Além disso, é necessário saber agir em caso de alimentos terem sido produzidos em plantas que tiveram colaboradores testados positivos para o vírus. Deve-se sempre tentar agir preventivamente, porém em algumas situações, medidas corretivas podem ser pertinentes, como por exemplo a higienização dos locais em que o colaborador infectado teve contato.

 

Higienização das mãos

A higienização das mãos é a forma mais eficaz de evitar a transmissão do vírus, dessa forma, deve-se garantir que todos os colaboradores estão realizando este procedimento da forma correta e com frequência.

Logo, toda planta de processamento deve possuir instalações para lavagem e secagem adequada das mãos. Treinamentos podem ser importantes para assegurar que a equipe esteja realizando corretamente este procedimento.

 

Higienização do ambiente, equipamentos e utensílios

Deve-se aumentar os cuidados com a higienização, aperfeiçoando as rotinas de limpeza e tornando-as mais frequentes. Além disso, os produtos utilizados na limpeza e sanitização devem ser adequados para a finalidade e regulamentados pela ANVISA. É necessário avaliar a eficácia dos procedimentos de limpeza e sanitização realizados.

 

Higiene pessoal

Garantir que todos os colaboradores estejam realizando uma boa higiene pessoal é uma forma de reduzir riscos de contaminação com a COVID-19. Entre estes cuidados podemos citar: banhos antes do início da jornada, uniformes limpos e usados somente dentro da área de produção, uso correto de EPIs (equipamentos de proteção individual), entre outros.

 

Controle da matéria-prima 

Uma etapa de desinfecção das embalagens das matérias-primas recebidas pode ser implementada. Além disso, os colaboradores responsáveis por este recebimento devem ter acesso a EPIs necessários e instalações para higienização das mãos.

 

Transporte

A etapa de transporte das matérias-primas e dos produtos acabados deve seguir todos os procedimentos de BPFs. As superfícies que possuem maior contato de colaboradores (exemplo: pagadores de carrinhos de transporte manual de cargas), devem ser higienizadas com mais frequência.

 

Desta maneira, se reduz os riscos de contaminação pela COVID-19 dentro da sua indústria e se fornece um alimento seguro ao consumidor.

 

REFERÊNCIAS:

ANVISA (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA). Nota técnica n° 18/2020 de 6 de abril de 2020. Covid-19 e as Boas Práticas de Fabricação e Manipulação de Alimentos. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/219201/4340788/NT+18.2020+-+Boas+Pr%C3%A1ticas+e+Covid+19/78300ec1-ab80-47fc-ae0a-4d929306e38b>. Acesso em: 4 de mai de 2020.

ANVISA (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA). O novo coronavírus pode ser transmitido por alimentos? 2020. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/o-novo-coronavirus-pode-ser-transmitido-por-alimentos-/219201>. Acesso em: 4 de mai de 2020.

FDA (FOOD AND DRUG ADMINISTRATION). Food Safety and the Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). Disponível em: <https://www.fda.gov/food/food-safety-during-emergencies/food-safety-and-coronavirus-disease-2019-covid-19>. Acesso em: 4 de mai de 2020.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doenças transmitidas por alimentos: Causas, sintomas, tratamento e prevenção. Disponível em:<https://saude.gov.br/saude-de-a-z/doencas-transmitidas-por-alimentos>. Acesso em: 4 de mai de 2020.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doenças transmitidas por alimentos: Informações técnicas. Disponível em: <https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/doencas-transmitidas-por-alimentos/informacoes-tecnicas>. Acesso em: 4 de mai de 2020.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Surtos de doenças transmitidas por alimentos no Brasil: Informe de 2018. 2019. Disponível em: <https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/fevereiro/15/Apresenta—-o-Surtos-DTA—Fevereiro-2019.pdf>. Acesso em: 4 de mai de 2020.

VIGILÂNCIA SANITÁRIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Doenças de transmissão hídrica e alimentar (DTHA). Disponível em: <http://www.vigilanciasanitaria.sc.gov.br/index.php/inspecao-de-produtos-e-servicos-de-saude/alimentos/91-area-de-atuacao/inspecao-de-produtos-e-servicos-de-saude/alimentos/415-doencas-de-transmissao-hidrica-e-alimentar-dtha>. Acesso em: 4 de mai de 2020.