Diversos estudos indicam a transmissibilidade da COVID-19 por portadores assintomáticos e pré-sintomáticos, e a dificuldade de diferenciação entre eles. Os assintomáticos são aqueles que nunca irão desenvolver os sintomas, enquanto os pré-sintomáticos são aqueles que ainda não possuem sintomas, mas desenvolverão futuramente.

A similaridade de contágio entre infecções sintomáticas e assintomáticas já foi reportada. Diversas pesquisas sobre a COVID-19 trazem dados sobre o desempenho dos assintomáticos na transmissão e o desafio que isto representa no controle da doença.

 

Assintomáticos: Relatos

Um artigo de revisão, publicado na revista Annal of Internal Medicine, reuniu diversos episódios de transmissão do novo coronavírus através de pessoas assintomáticas. Os dados sugerem que existe uma probabilidade de cerca de 40% dos infectados pela COVID-19 não desenvolverem sintomas. Além disso, o estudo estima que estes portadores assintomáticos transmitem a doença por um período prolongado. 

 

Islândia

Na Islândia, 13.080 pessoas se voluntariam para uma triagem, destas, 100 testaram positivo para o vírus SARS-CoV-2, sendo que 43% não apresentavam sintomas. Os pesquisadores neste estudo afirmaram que possivelmente, parte destes, desenvolveriam sintomas posteriormente.

 

Itália

Em uma cidade italiana, durante um bloqueio de 14 dias, foram realizadas duas grandes testagens, com coleta de swabs nasofaríngeos. Na primeira, 2.812 pessoas foram testadas (85,9% da população) e na segunda, 2.343 pessoas (71,5% da população). Na primeira coleta, 73 pessoas testaram positivo para o novo coronavírus, e destas, 30 (41,1%) não apresentavam sintomas. Já na segunda coleta, 29 testaram positivo, sendo que 13 (44,8%) não tinham sintomas. Tais pessoas não apresentaram sintomas nos 14 dias após a testagem e, através de rastreamento, novos casos positivos para o novo coronavírus foram detectados por conta da exposição das pessoas assintomáticas.

 

Abrigos de sem tetos em Los Angeles e Boston

Em dois abrigos para sem tetos, um em Los Angeles e outro em Boston, também foram reportados casos de assintomáticos. No de Los Angeles, no final de março de 2020, um morador foi diagnosticado com a COVID-19. Em abril, um grupo de moradores sintomáticos foram identificados e então foi realizada a testagem de todos os moradores. Dos 178 realizados, 43 foram positivos para o novo coronavírus, e destes, 27 eram assintomáticos (63,8%).

Já no de Boston, durante 5 dias, 15 pessoas foram positivas para COVID-19, elas foram retiradas do abrigo e todos os demais ocupantes foram testados (408 moradores). Destes, 147 foram positivos para o novo coronavírus e entre eles, 129 (87,8%) eram assintomáticos.

 

Em um outro estudo, publicado no The New England Journal of Medicine, foi reportado o caso de uma instalação de enfermagem em Washington, onde um funcionário testou positivo para COVID-19. Após isso, os moradores do local foram testados utilizando RT-PCR. Junto com a coleta nasofaríngea para realização do teste, informações sobre os sintomas apresentados nos últimos 14 dias foram coletadas. Os sintomas foram classificados em: típicos, atípicos e ausente.

Dos 76 moradores testados, 48 apresentaram resultado positivo no teste por RT-PCR e destes, 27 eram assintomáticos (63%). Porém, 24 destes assintomáticos vieram a desenvolver sintomas e então, entraram para a classificação de pré-sintomáticos.

Foi observado uma similaridade na carga viral entre os 4 grupos analisados: sintomas típicos, sintomas atípicos, pré-sintomáticos e assintomáticos. Além disso, a alta concentração viral na cavidade nasal antes do aparecimento dos sintomas também é uma característica do vírus. Isso mostra o papel importante dos portadores assintomáticos na disseminação da COVID-19.

 

O risco de não testar todos os colaboradores

Levando em conta os dados apresentados, deve-se atentar para a importância da testagem de todos os colaboradores da empresa e para o risco da testagem de apenas alguns grupos específicos.

Devido a transmissão da COVID-19  por assintomáticos e pré-sintomáticos, é que chamamos atenção para o risco da testagem de apenas pessoas com sintomas compatíveis com a doença. A testagem dos colaboradores de forma abrangente e periódica, permite uma tomada de ação rápida e assertiva, garantindo que um indivíduo infectado seja rapidamente detectado e isolado, e impedindo que os demais sejam contaminados.

A taxa de contágio da COVID-19 é muito variável, e levando em conta a alta transmissibilidade do vírus, chamamos atenção para ambientes fabris, onde o trabalho muitas vezes ocorre de forma conjunta e esta taxa pode ser maior que a média do país. A testagem de todos os colaboradores impede que uma pessoa infectada e sem sintomas continue normalmente seu trabalho, entrando em contato com diversas outras pessoas por dia. Utilizando a metodologia de RT-PCR, que permite um diagnóstico precoce da doença, o isolamento de um colaborador infectado pode ser realizado o mais rápido possível, evitando a disseminação da COVID-19 dentro da empresa.

Vale também ressaltar que os países que conseguiram controlar melhor com a pandemia, foram aqueles que realizaram mais testes na sua população, sendo ela sintomática ou não, e desta forma, conseguiram isolar rapidamente os indivíduos infectados e rastrear os seus contatos.

Fica então o questionamento, vale o risco de não testar todos os colaboradores?

 

Referências:

GANDHI, M. et al. Asymptomatic Transmission, the Achilles’ Heel of Current Strategies to Control Covid-19. The New England Journal of Medicine, p. 2158-2160, 2020.

GAO, Z. et al. A systematic review of asymptomatic infections with COVID-19. Journal of Microbiology, Immunology and Infection, 2020.

ORAN, D.P. et al. Prevalence of Asymptomatic SARS-CoV-2 Infection. Annal of Internal Medicine, 2020.