A segurança dos alimentos é fundamental para a indústria alimentícia, especialmente no que diz respeito ao armazenamento de carnes embaladas a vácuo. O controle microbiológico, particularmente em relação à deterioração causada por bactérias, é essencial para garantir a qualidade e a segurança do produto final. Um estudo recente sobre a deterioração de carne bovina embalada a vácuo destacou como diferentes temperaturas de armazenamento afetam o desenvolvimento de microrganismos. Com o uso de tecnologias modernas, como o sequenciamento de DNA e as análises metataxonômicas, foi possível mapear essas mudanças microbiológicas e prever riscos de deterioração.

A Deterioração de Carne Embalada a Vácuo: O Estudo de Caso

 

O estudo focou em como a carne bovina embalada a vácuo se comporta quando armazenada em duas temperaturas diferentes: 4°C, considerada uma temperatura segura para preservação, e 15°C, uma condição de abuso de temperatura. A principal preocupação era entender como essas variações afetam o crescimento bacteriano, levando à Blown Pack Spoilage (BPS) – um tipo de deterioração em que gases são produzidos, distendendo a embalagem e gerando odores desagradáveis. O estudo completo pode ser acessado aqui.

 

Por que isso é importante para a segurança alimentar? Quando armazenada a 15°C, a carne apresentou um rápido crescimento de microrganismos responsáveis pela BPS, como Clostridium e Bacteroides, a partir do 14º dia. Esses microrganismos causaram distensão na embalagem e um forte odor pútrido, sinal claro de deterioração. Esse ambiente de temperatura elevada favoreceu o crescimento descontrolado de bactérias anaeróbicas, comprometendo a qualidade da carne.

 

Por outro lado, as amostras armazenadas a 4°C mantiveram uma microbiota relativamente estável ao longo de 28 dias, sem sinais de BPS. As bactérias predominantes a essa temperatura foram Photobacterium, Hafnia-Obesumbacterium e Lactococcus, microrganismos que não causam problemas significativos de deterioração. Esse resultado reforça que o controle rigoroso da temperatura é um fator crítico para garantir a segurança e a preservação da carne embalada a vácuo.

 

A Relevância do Monitoramento Microbiológico

 

Os resultados deste estudo indicam claramente que o monitoramento contínuo das condições microbiológicas durante o armazenamento de alimentos é crucial para evitar problemas de segurança. Mas como é possível prever esses riscos antes que a deterioração ocorra? É aqui que entram as tecnologias modernas de monitoramento microbiológico, como o sequenciamento de DNA e as análises metataxonômicas, que foram fundamentais neste estudo.

 

Essas tecnologias permitiram identificar com precisão as espécies bacterianas presentes em cada temperatura de armazenamento, oferecendo uma visão clara de como a microbiota se desenvolve ao longo do tempo. No armazenamento a 15°C, por exemplo, o aumento significativo de bactérias anaeróbicas, como Clostridium, foi o principal fator responsável pela BPS. Ao monitorar essas mudanças bacterianas, a indústria pode ajustar suas práticas de armazenamento para evitar a deterioração e garantir a segurança do alimento.

 

Impacto das Temperaturas de Armazenamento na Deterioração

 

Um dos achados mais importantes do estudo foi a diferença no comportamento da microbiota entre as temperaturas de 4°C e 15°C. Enquanto a carne armazenada a 4°C permaneceu estável, a 15°C houve um rápido crescimento de bactérias associadas à deterioração, como Clostridium. Essa bactéria anaeróbica não só gera gases que estufam as embalagens, como também pode representar riscos à saúde do consumidor quando não controlada adequadamente.

 

Além disso, bactérias como Bacteroides e Fusobacterium, também identificadas em grandes quantidades nas amostras armazenadas a 15°C, são indicadores claros de deterioração avançada. Isso demonstra que a temperatura inadequada cria um ambiente propício para o desenvolvimento de microrganismos indesejados que, em última instância, afetam tanto a qualidade quanto a segurança do produto final.

 

A Figura 5 a seguir mostra as diferenças na composição microbiológica ao longo do tempo entre as carnes armazenadas em 4°C e 15°C. Essa visualização destaca o impacto das condições de temperatura na proliferação de bactérias responsáveis pela deterioração, como Clostridium e outros anaeróbios estritos, que aumentam em condições de temperatura abusiva.

 

Aplicação das Tecnologias de Monitoramento Microbiológico

 

O uso de sequenciamento de DNA no estudo permitiu mapear o DNA bacteriano em detalhes, identificando as espécies que predominavam em cada estágio de armazenamento. Isso deu à equipe de pesquisa uma visão completa sobre quais bactérias estavam envolvidas na deterioração e em que ponto começaram a se proliferar. Com esse tipo de análise, a indústria alimentícia pode antecipar o crescimento bacteriano indesejado, ajustando as condições de armazenamento para prevenir problemas antes que eles ocorram.

 

As análises metataxonômicas, outro método usado no estudo, permitiram uma avaliação abrangente das comunidades bacterianas ao longo do tempo. Essa abordagem não apenas quantificou as bactérias presentes, mas também forneceu insights sobre suas interações e como elas afetam a qualidade do alimento. Tais ferramentas são essenciais para garantir que os alimentos sejam monitorados adequadamente durante o armazenamento, garantindo sua segurança e evitando perdas.

 

Garantindo a Segurança dos Alimentos com Controle de Temperatura

 

A principal lição deste estudo é clara: controlar a temperatura durante o armazenamento de carnes embaladas a vácuo é essencial para evitar a deterioração e garantir a segurança alimentar. A carne armazenada a 4°C permaneceu segura e sem sinais de BPS, enquanto a carne armazenada a 15°C deteriorou-se rapidamente, destacando o papel crítico que a temperatura desempenha no crescimento microbiano.

 

Além disso, o uso de tecnologias avançadas de monitoramento, como o sequenciamento de DNA e as análises metataxonômicas, não só ajudou a entender o processo de deterioração, mas também ofereceu soluções práticas para prevenir esses problemas. Ao identificar com precisão as bactérias que causam a deterioração e monitorar suas atividades ao longo do tempo, é possível tomar medidas preventivas e garantir que os alimentos cheguem ao consumidor final em perfeitas condições.

 

Conclusão: O Futuro da Segurança Alimentar

 

O estudo sobre a deterioração de carne bovina embalada a vácuo demonstrou a importância de um rigoroso controle de temperatura no armazenamento de alimentos e a necessidade de tecnologias avançadas para monitorar a microbiota. Com ferramentas como o sequenciamento de DNA e as análises metataxonômicas, a indústria alimentícia pode identificar, prever e prevenir problemas microbiológicos que possam comprometer a qualidade e segurança dos alimentos.

 

A segurança alimentar depende de práticas preventivas e do uso de tecnologia para garantir que os produtos cheguem ao consumidor sem risco de deterioração ou contaminação. Esse estudo ressalta como a ciência e a inovação podem trabalhar juntas para proteger os alimentos e manter a confiança do consumidor.

 

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Referências:

  • Camargo, A. C., et al. “Meat quality and spoilage: microbial and chemical changes in vacuum-packed beef during refrigerated storage.” Journal of Meat Science and Technology 2019.
  • Ercolini, D., et al. “Microbial spoilage of foods and beverages: mechanisms and control strategies.” Food Microbiology 2011.
  • Kaur, M., et al. “Control of microbial growth in meat by vacuum packaging and cold storage.” Journal of Food Safety 2021.
  • ISO 4833–1:2013, Microbiology of the food chain — Horizontal method for the enumeration of microorganisms — Part 1: Colony count at 30°C by the pour plate technique.
  • ISO 15214:1998, Microbiology of food and animal feeding stuffs — Horizontal method for the enumeration of mesophilic lactic acid bacteria.
  • Silva, J., et al. “Effect of temperature abuse on the growth of psychrotrophic Clostridium species in vacuum-packed beef.” International Journal of Food Microbiology 2012.
  • Brightwell, G., et al. “Microbial spoilage of refrigerated vacuum-packed beef and lamb.” Journal of Applied Microbiology 2007.
  • Adam, K. M., et al. “Clostridium estertheticum and its role in meat spoilage.” Journal of Meat Science 2010.
  • Artigo original: Bacterial microbiota shifts in vacuum-packed beef during storage at different temperatures: Impacts on blown pack spoilage.