Listeria monocytogenes é a bactéria causadora da listeriose, doença que afeta principalmente crianças, grávidas e idosos. Esse microrganismo é capaz de sobreviver às mais adversas condições, tornando sua eliminação difícil.

 

O gênero Listeria atualmente inclui 21 espécies de bastonetes gram-positivos encontrados em diferentes ambientes. Duas espécies de Listeria, L. monocytogenes e L. ivanovii são as historicamente consideradas patogênicas a humanos e animais.

Listeria monocytogenes infecta animais e humanos e causa a doença conhecida como listeriose que tem importância para a saúde pública e para a economia global. Já a espécie de L. ivanovii é considerada uma espécie que infecta principalmente os ruminantes e por isso são raras os casos infectando seres humanos (QUEREDA et al, 2021).

 

LISTERIA E A RELAÇÃO COM A INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA

Recentemente, uma revisão bibliográfica reuniu os estudos dos principais surtos mundiais causados por Listeria e identificou que os produtos alimentícios prontos para o consumo são os alimentos mais associados a essa doença.

Os exemplos são: carnes e derivados como salsichas, cachorro quente, peito de peru, frutos do mar (truta, caranguejo e salmão), leite e laticínios (pasteurizados e não pasteurizados), frutas frescas e vegetais congelados (QUEREDA et al, 2021).

Baseado nisso, Listeria é considerada uma Doença Transmitida por Alimento e deve ser uma grande preocupação das agências governamentais prevenir e evitar tais contaminações.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento institui o “Programa de Controle de Listeria monocytogenes em Produtos de Origem Animal Prontos para Consumo”. O programa é constituído por várias normas e diretrizes a serem seguidas no processo de produção das empresas em amplitude nacional, assim como estabelece fiscalizações e inspeções regulares dos estabelecimentos e de amostras de produtos.

Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, tem duas normativas a RDC 331/2019 e IN 60/2019 que tratam sobre os padrões microbiológicos dos alimentos e a aplicação dos mesmos. No caso da Listeria monocytogenes, alimentos prontos para o consumo, destinados a lactentes ou para fins especiais devem ter ausência total dessa bactéria.

 

LISTERIA: UM PODER SILENCIOSO

L. monocytogenes pode ser introduzida na planta de indústrias alimentícias através dos próprios trabalhadores, pelo transporte de animais, alimentos crus (leite, por exemplo) e materiais de colheitas, solo e silagem.

Uma vez dentro dessas plantas industriais, a L. monocytogenes pode persistir por anos ou até mesmo por décadas e causando recontaminação no processo produtivo.

 

Mas por que isso ocorre?

 

Diferente de outros patógenos alimentares, como a Salmonella, a Listeria possui características peculiares que a tornam excepcionalmente difícil de eliminar. Essa bactéria é capaz de se adaptar à condições de estresse como altas concentrações de sal, pH, refrigeração, temperatura e a ação de desinfetantes.

Listeria é capaz de sobreviver e crescer, embora tenha alguma dificuldade, a concentração altas (3 molar) de sal e a temperaturas baixas como -0,4ºC e a compostos utilizados em sanitização como amônio quaternário (QAC) que são os desinfetantes mais comuns e eficazes usados (QUEREDA et al, 2021).

Tais características, aliadas a capacidade de formação de biofilmes dessa espécie, se tornam em um verdadeiro “poder” que pode ser silencioso ao controle de qualidade das indústrias. Muitas indústrias acabam só detectando a presença de Listeria na produção quando ela se torna grave causando prejuízos e até mesmo quando há uma dificuldade de eliminação da raiz do problema.

Para evitar isso, é fundamental fazer o monitoramento microbiológico dos processos, superfícies e produtos para garantir a qualidade dos processos e que o produto final não está contaminado com Listeria.

 

FORMAS DE DETECÇÃO

Os métodos tradicionais de identificação dessa bactéria envolvem o cultivo das amostras em meio seletivo e, se o resultado for positivo, posterior quantificação. Este processo leva em média 5 dias para ser realizado.

Já os métodos rápidos, que podem ser realizados em até 24 horas, envolvem a seleção com meio seletivo e a aplicação das mais diversas técnicas, como separação imunomagnética, ensaios baseados em ELISA e PCR em tempo real, por exemplo.

Para identificar a origem dos surtos por L. monocytogenes, atualmente são empregadas abordagens de biologia molecular, genômica e bioinformática. Nesses casos, é realizado o sequenciamento completo do DNA (Whole-Genome Sequencing) para avaliar a relação genética entre esses microrganismos. Com essas informações é possível identificar a origem e as formas de disseminação do patógeno, permitindo a rápida tomada de decisão para evitar novas contaminações.

Na Neoprospecta possuímos uma solução chamada Diagnóstico Microbiológico Digital (DMD), com ela conseguimos identificar, em uma análise, o conjunto de microrganismos presentes no meio, através da análise molecular aliada a bioinformática.

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Referências Bibliográficas

QUEREDA et al (2021). Pathogenicity and virulence of Listeria monocytogenes: A trip from environmental to medical microbiology. Virulence.  12(1): 2509–2545, 2021.