A relação entre esgoto e coronavírus ainda está sendo estudada. Com o surgimento do vírus SARS-CoV-2 no final de 2019 e a sua rápida disseminação pelo mundo, diversos estudos estão sendo feitos para entender melhor o vírus e tudo que se relaciona a ele.

Desta forma, estudos estão surgindo e indicando a relação entre esgoto e coronavírus, ou seja, a possibilidade do vírus ser excretado nas fezes de pessoas contaminadas.

Fezes e Coronavírus

Uma pesquisa publicada recentemente na revista The Lancet, estudou os vírus SARS-CoV e MERS-CoV. Estes dois vírus também são da família coronavírus e responsáveis por infecções respiratórias. Os dados apresentados indicam que uma parte significativa das pessoas infectadas com tais vírus, apresentaram sintomas gastrointestinais, como diarréia. Além disso, foi detectada a presença de RNA dos vírus SARS-CoV e MERS-CoV nas fezes de parte das pessoas contaminadas.

Um outro estudo, realizado em um hospital de Zhuhai, na China, avaliou, utilizando a técnica de RT-PCR, a presença do vírus em 74 amostras fecais e respiratórias de pacientes contaminados com o vírus. Destes, 45% tiveram resultados negativos nas amostras fecais e positivos nas respiratórias. Enquanto os outros 55% tiveram resultados positivos tanto nas amostras fecais como nas respiratórias.

Um outro dado importante é em relação ao tempo em que o vírus foi detectado nas amostras fecais. Nas amostras respiratórias ele foi detectado por de 15 a 16 dias, enquanto nas fecais por cerca de 27 dias. Ou seja, mesmo após o desaparecimento do vírus nas vias respiratórias, ele continuou sendo excretado nas fezes.

Esgoto e Coronavírus

O estudo que avaliou presença de SARS-CoV e MERS-CoV em fezes de pessoas contaminadas, também trouxe dados que apoiam a hipótese de transmissão fecal-oral, uma vez que tais vírus são viáveis em condições ambientais. Dois hospitais de Pequim, que tratavam pacientes contaminados com o vírus SARS-CoV, encontram o RNA do vírus em seus esgotos.

Desta forma, considerando a capacidade dos outros dois coronavírus estudados serem excretados nas fezes, e permanecerem viáveis em condições ambientais que favorecem a transmissão fecal-oral, existe a possibilidade do SARS-CoV-2 ser transmitido por este meio.

Um estudo iniciado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a prefeitura de Niterói/RJ, está avaliando a presença de material genético do vírus SARS-CoV-2 em esgotos da cidade. Os testes estão sendo realizados através da técnica de RT-PCR, recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A primeira coleta foi realizada em 12 pontos e 5 destes tiveram resultados positivos, sendo detectado material genético do vírus. Vale ressaltar que ainda não existem evidências da transmissão fecal-oral. Embora tenha sido detectado RNA viral nas amostras, não há evidências da possibilidade deste vírus infectar outras pessoas após ser excretado nas fezes.

Considerando dados disponibilizados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), publicados no Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto de 2018, 46,3% dos esgotos gerados no Brasil tiveram tratamento no ano em questão. Este dado, associado a detecção de material genético do vírus em esgotos e a chance do mesmo ser transmitido por via fecal-oral, nos alerta sobre a disseminação do vírus, principalmente entre uma parcela da população mais vulnerável, sem acesso a saneamento básico.

Mesmo que ainda não existam estudos que comprovem essa transmissão fecal-oral, alguns cuidados devem ser tomados e deve-se atentar para as áreas de baixo saneamento. É importante que se tome as precauções necessárias durante o manuseio de fezes de pessoas infectadas e que os hospitais sejam rigorosos quanto ao tratamento dos seus esgotos. Além disso, a importância da lavagem correta e frequente das mãos deve ser enfatizada.

 

Referências:

YEO, C., KAUSHAL, S., YEO, D. Enteric involvement of coronaviruses: is faecal–oral transmission of SARS-CoV-2 possible? The Lancet, v. 5, p. 335-337, 2020.

WU, Y. et al. Prolonged presence of SARS-CoV-2 viral RNA in faecal samples. The Lancet, v. 5, p. 434-435, 2020.

FIOCRUZ (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ). Fiocruz divulga estudo sobre a presença do novo coronavírus em esgotos sanitários, 2020. Disponível em: <https://portal.fiocruz.br/noticia/fiocruz-divulga-estudo-sobre-presenca-do-novo-coronavirus-em-esgotos-sanitarios>. Acesso em: 8 de mai de 2020.

SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÃO SOBRE SANEAMENTO (SINS). Diagnóstico dos serviços de água e esgoto, 2018. Disponível em: <http://www.snis.gov.br/downloads/diagnosticos/ae/2018/Diagnostico_AE2018.pdf>. Acesso em: 8 de mai de 2020.

Coronavírus: Esgoto pode ser via de contágio, indicam estudos. BBC, 2 de abr de 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52143119>. Acesso em: 8 de mai de 2020.