Neste grupo de microrganismos psicrotróficos, encontram-se, entre outras, bactérias pertencentes aos gêneros Pseudomonas, Aeromonas, Serratia, Alcaligenes, Bacillus spp., Clostridium spp., Streptococcus spp. e Lactobacillus spp. (SORHAUG & STEPANIAK,1997).

Estas se destacam pela produção de enzimas extracelulares termoestáveis, principalmente proteases e lipases, as quais contribuem significativamente para a redução da qualidade do leite e de produtos lácteos, mesmo após a aplicação de tratamentos térmicos.

Bacillus cereus destaca-se pela produção de endosporos e por causar intoxicações de origem alimentar (PENG et al., 2001).

Trata-se de um dos microrganismos psicrotróficos produtor de endosporos com superfície hidrofóbica, os quais são capazes de aderir facilmente aos equipamentos da indústria, formando biofilme e também resistentes a diversas condições de stress – incluindo altas temperaturas (PENG et al., 2001).

Pseudomonas sp. é o gênero Gram-negativo mais importante para a redução da vida útil de produtos submetidos ao processo de Ultra High Temperature – UHT (MARCHAND et al., 2012).

Pseudomonas também compõe a microbiota predominante do leite cru refrigerado, por exemplo, pois além de possuir diversas fontes de contaminação, Pseudomonas sp. é favorecido pela baixa temperatura de armazenamento desta matéria-prima, sobrepondo seu crescimento em relação aos demais gêneros de microrganismos (DE JONGHE et al., 2011; RAATS et al., 2011).

Dentre as espécies de Pseudomonas sp. mais frequentemente isoladas do leite cru refrigerado estão P. fluorescens, P. fragi, P. lundensis e P. gessardii (DE JONGHE et al., 2011).

 

Psicrotróficos formadores de biofilmes: Como resolver ?

 

Segundo Meyer (2003), existem três estratégias básicas na tentativa de resolver o problema dos biofilmes: sanificação antes da formação do
biofilme; sanificação após sua formação, utilizando sanificantes potentes; ou utilização de materiais que não favoreçam/impeçam a formação dos biofilmes.

Sabe-se que quanto menor a carga microbiana da matéria-prima, mais lento será o processo de formação dos biofilmes.

Assim, a busca de ferramentas para a remoção de biofilmes dentro do ambiente industrial não pode ser uma prática isolada: é preciso também que se controle a carga microbiana da matéria-prima e a atuação dos manipuladores, ainda em nível de propriedade rural, impedindo ou minimizando o acesso de diversos patógenos e deterioradores à indústria (POMPERMAYER & GAYLARDE, 2000).

Ferramentas como as Boas Práticas de Fabricação (BPF) e a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) têm contribuído bastante para melhorar o controle microbiológico em nível de indústria de alimentos.

Na indústria de laticínios, por exemplo, o método de higienização clean in place (CIP), tem se revelado bastante eficaz para a remoção de microrganismos em tubulações e equipamentos de difícil desmontagem.

Entretanto, para a obtenção de tal efeito, o método de higienização deve ser aliado à verificação de sua eficiência e à utilização de detergentes adequados (MARCHAND et al., 2012).

 

Psicrotróficos: Processos de higienização, validação e cuidados.

 

É importante destacar que o processo de higienização abrange dois processos principais: a limpeza e a sanificação.

A limpeza refere-se à remoção de matéria orgânica e outros resíduos presentes no local a ser higienizado.

Para realizá-la, é comum a aplicação de detergentes, cuja formulação é bastante diversa e adaptada às diversas modalidades de indústria de alimentos (ANDRADE, 2008).

A sanificação, por sua vez, tem o objetivo de reduzir as contagens microbianas até níveis seguros de saúde pública.

Para realizá-la, podem ser utilizados sanificantes químicos, cujos principais são os à base de hipoclorito de sódio, ácido peracético, amônio quaternário, álcool e clorexidina (ANDRADE, 2008).

No entanto, mesmo com um programa CIP bem projetado, há evidências de que microrganismos residuais podem recolonizar as superfícies dos equipamentos.

Sabendo disso, é importante monitorar e controlar as concentrações e temperaturas químicas dos reagentes de limpeza para garantir que a atividade esporicida seja mantida.

Alguns estudos demonstraram que uma pequena porcentagem de esporos de Bacillus spp. podem sobreviver à exposição a uma solução de NaOH.

Já os esporos de Geobacillus spp., que sobreviveram a esse tratamento, tiveram maior propensão a se unir ao aço inoxidável.

Os resultados desses estudos sugerem que a circulação de soluções de limpeza de NaOH, durante a CIP, poderia espalhar esporos viáveis em torno do equipamento de processamento.

A prática de reutilizar soluções cáusticas de limpeza reduz os custos operacionais da indústria, no entanto, isso pode aumentar o risco de contaminar as superfícies com esporos, uma vez que a soda cáustica vai perdendo sua eficiência.

Além disso, algumas pesquisas, apontam que a utilização de aditivos cáusticos e nítricos, melhoram a eficiência da CIP na remoção de biofilmes bacterianos das superfícies dos equipamentos em indústrias lácteas.

 

Referências

 

Bremer, P. J., Fillery, S., & McQuillan, A. J. Laboratory scale Clean-In-Place (CIP) studies on the effectiveness of different caustic and acid wash
steps on the removal of dairy biofilms . International Journal of Food Microbiology, 106(3), 254–262, 2006.

Bremer, P., Brooks, J., Flint, S., Palmer, J., Burgess, S., Lindsay, D., & Seale, B. Biofilm Formation and Control in the Dairy Industry . Reference Module in Food Science. 2018.

DE JONGHE, V.; COOREVITS, A.; VAN HOORDE, K. et al. Influence of Storage Conditions on the Growth of Pseudomonas Species in Refrigerated
Raw Milk. Applied and Environmental Microbiology, v. 77, n. 2, p. 460–470, 2011.

Faille, C., Bénézech, T., Blel, W., Ronse, A., Ronse, G., Clarisse, M., & Slomianny, C. Role of mechanical vs. chemical action in the removal of adherent Bacillus spores during CIP procedures . Food Microbiology, 33(2), 149–157, 2013.

Flach, J. Caracterização e controle de biofilme formados por bactérias psicrotróficos, 2015.

PENG, J.S.; TSAI, W.C.; CHOU, C.C. Surface characteristics of Bacillus cereus and its adhesion to stainless steel. International Journal of Food
Microbiology, v. 65, p. 105-111, 2001.

SØRHAUG, T.; STEPANIAK, L. Psychrotrophs and their enzymes in milk and dairy products: Quality aspects. Trends in Food Science & Technology, v. 8, n. 2, p. 35-41, 1997.

MARCHAND, S.; HEYLEN, K.; MESSENS, W. et al. Seasonal influence on heat-resistant proteolytic capacity of P. lundensis and P. fragi, predominant milk spoilers isolated from Belgian raw milk Samples. Environmental Microbiology, v. 11, n. 2, p. 467–482, 2009.

MARCHAND, S.; DE BLOCK, J.; DE JONGHE, V. et al. Biofilm Formation in Milk Production and Processing Environments; Influence on Milk Quality and Safety. Comprehensive Reviews in Food Science and Food Safety, v. 11, p.
133-147, 2012.