Ao longo do próximo ano, nos EUA, todas as empresas fabricantes de sabonetes bactericidas, contendo uma das 19 substâncias proibidas, devem retirar seus produtos dos mercados. A decisão foi tomada pela Agência Americana de Medicamentos e Alimentos (FDA, sigla em inglês), após pedir que as empresas responsáveis pela fabricação de sabonetes antimicrobianos e antibacterianos, comprovassem a eficácia de 19 substâncias na higienização das mãos e do corpo, em detrimento do uso de sabão comum e água.

“Além de não ter comprovação científica de que o uso de sabonetes contendo qualquer uma destas substâncias é mais eficaz que sabão comum e água, o uso a longo prazo pode trazer danos para a saúde, como problemas ao sistema imunológico, propiciando a resistência bacteriana e estão associadas ao desenvolvimento de alguns tipos de doenças” – disse Janet Woodcok, diretora da divisão de medicamentos da FDA.

Entre as 19 substâncias proibidas estão o Triclosan, comum em sabonetes líquidos, e o Triclocarban, presente na maior parte dos sabonetes em barra. A FDA estima que aproximadamente 40% dos produtos que estão atualmente no mercado, possuem pelo menos um dos 19 ingredientes proibidos. Outros três compostos – cloreto de benzalcônio, cloreto de benzetônio e cloroxilenol – ainda estão sob análise da agência e por enquanto não foram proibidos.

“Os sabonetes antibacterianos são chave para a saúde devido à importância das mãos limpas na prevenção de infecções. Lavar as mãos com sabonetes antissépticos pode ajudar a reduzir o risco de infecção, mais que a lavagem com água e sabonete não antibacteriano.” – disse o Instituto Americano de Limpeza (ACI, sigla em inglês), representante dos fabricantes, em defesa dos sabonetes antibactericidas.

A conclusão que chegamos é de que devemos nos garantir com a boa prática de lavar as mãos com água e sabão comum para evitar a disseminação de diversas doenças. Dessa forma, estaremos reduzindo o número de casos de infecções por bactérias resistentes, ou multirresistentes, causadas pela ineficiência dos bactericidas usados no nosso dia-a-dia, no controle de contaminação direta ou contaminação cruzada.

Os testes no Brasil

Em 2012 a Proteste avaliou a eficácia de 12 sabonetes para acabar com quatro tipos de bactérias:

  • Escherichia coli -presente no intestino grosso e nas fezes humanas;
  • Pseudomonas aeruginosa – causadora da infecção hospitalar;
  • Serratia marcescens – ataca o sistema urinário e respiratório;
  • Staphylococcus aureus – causa infecções na pele e até pneumonia.

 Os resultados

  • Oito sabonetes eliminaram a bactéria Escherichia coli, presente no intestino grosso e nas fezes humanas;
  • Dos cinco sabonetes que anunciavam proteger a pele contra o S. aures, somente o Dettol em barra confirmou sua ação;
  • Protex e Lifebuoy, nas versões sólidas, garantem eliminar a S. marcescens, mas só o Lifebuoy conseguiu;
  • Os produtos Granado Antisséptico, Ypê e Racco e Protex demonstraram ação antibacteriana, mesmo não indicando ação bactericida específica em seus rótulos;
  • O Protex, que afirma eliminar 99,9% das bactérias presentes na pele, não cumpriu o prometido.

A Proteste pediu à Anvisa a padronização dos testes de eficácia bactericida realizados pelos fabricantes.

 A resposta da Anvisa

A Anvisa informou que no Brasil existem 215 produtos que contém o Triclosan e 110 com Triclocarban. O Triclosan tem seu uso previsto para qualquer produto de higiene pessoal, cosmético ou perfume com a função de conservante numa concentração máxima de 0,3%. O Triclocarban também é considerado um conservante, com concentração máxima de 0,2% e pode ser utilizado com outras funções, desde que em produtos destinados a serem enxaguados, com concentração máxima de 1,5%.
A Anvisa ressaltou que “tomou conhecimento dos recentes dados relacionados aos riscos decorrentes do uso destas substâncias em cosméticos e está estudando a necessidade de revisão da regulamentação”.

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  1. Federal Register. Safety and Effectiveness of Consumer Antiseptics; Topical Antimicrobial Drug Products for Over-the-Counter Human Use. Disponível em: https://www.federalregister.gov/documents/2016/09/06/2016-21337/safety-and-effectiveness-of-consumer-antiseptics-topical-antimicrobial-drug-products-for [Acessado em 19/09/2016].
  2. Food and Drug Administration. Orders Antibacterials Removed From Consumer Soaps. Disponível em: http://www.nbcnews.com/health/health-news/fda-orders-antibacterials-removed-consumer-soaps-n642036 [Acessado em 19/09/2016].

 


 

Sobre a autora: Denise Faccin é bióloga bacharel pela Universidade Federal de Santa Maria e mestre em biologia vegetal pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente é analista de marketing inbound da Neoprospecta Microbiome Technologies.