Enterobactérias

As enterobactérias, responsáveis pelas diarreias bacterianas, são um grupo de organismos Gram-negativos, anaeróbios facultativos, capazes de colonizar o intestino de mamíferos (ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY, 1997).

Muitos de seus representantes, tais como alguns sorotipos de Escherichia coli, são simbiontes e compõem a microbiota intestinal normal, porém outras linhagens de Escherichia coli, Salmonella, Yersinia pestis, Klebsiella e Shigella, podem ser potenciais patógenos, geralmente oportunistas, podendo causar infecção no trato digestivo, infecção urinária, sepse, pneumonia, entre outras (ANVISA, 2004).

Apesar de estarem frequentemente associadas a um hospedeiro, bactérias dessa família também podem ser de vida livre, sendo encontradas em ecossistemas aquáticos, principalmente após a contaminação desses ambientes com esgoto (BEAUDOIN, 2007).

 

E. Coli

Escherichia é o gênero tipo da família Enterobacteriaceae. E. coli é a espécie mais estudada dessa família, e embora a maior parte das linhagens de E. coli sejam inócuas, alguns sorotipos podem ser altamente patogênicos, sendo responsáveis por infecções hospitalares, do trato urinário e da corrente sanguínea, assim como infecções de origem alimentar em todo o mundo (WHO, 2014).

E. coli também é a principal causadora de diarreias no homem, sendo os sintomas da doença considerados linhagem-dependentes (OKEKE, 2009; NATARO; KAPER, 1998).

As linhagens patogênicas de E. coli são classificadas de acordo com suas manifestação clínicas em humanos e com o seu sítio de infecção, podendo ser: enteropatogênicas (EPEC), uropatogênicas (UPEC) e patogênicas extraintestinais. Essas bactérias também podem ser agrupadas com base em sua sorologia.

Além disso, podem ser classificadas, de acordo com o mecanismo de virulência utilizado, em: enterohemorrágica (EHEC), enterotoxigênica (ETEC), enteroinvasiva (EIEC), enteroagregativa (EAggEC) e difusamente-aderente (DAEC) (LUKJANCENKO et al., 2010).

As linhagens de EIEC são capazes de causar disenteria bacilar. Após a ingestão de alimentos contaminados com fezes de humanos doentes, essas bactérias invadem as células do epitélio do intestino.

A doença resultante, cujos sintomas aparecem após 12 a 72 horas, caracteriza-se pelo aparecimento de sangue e muco nas fezes de pacientes infectados, podendo também ser acompanhada de cólicas abdominais, diarreia, vômitos, febre, calafrios e mal-estar generalizado.

Uma complicação comumente associada com a infecção é a síndrome hemolítico-urêmica (FDA, 2012).

 

Resistência a drogas antimicrobianas

O relatório mais recente da Organização mundial da Saúde (OMS) deixa claro que a resistência bacteriana tem atingido níveis alarmantes em várias partes do mundo (WHO, 2014), incluindo o surgimento de linhagens resistentes a múltiplos antibióticos (superbactérias), contra as quais poucos tratamentos permanecem eficazes.

De acordo com esse relatório, que teve como fonte dados fornecidos pelos programas de vigilância de países de todo o mundo, assim como
artigos científicos, a porcentagem de Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Staphylococcus aureus resistentes a antibióticos comumente utilizados ultrapassou os 50% (WHO, 2014).

Em se tratando de resistência de Staphylococcus aureus à meticilinas foi verificada uma porcentagem de 90% nas Américas e 60% na Europa.